Na primeira anestesia realizada em ambiente acadêmico, na longínqua Boston, Massachusets do ano de 1846, o dentista William Thomas Green Morton adentrou a sala esbaforido, atrasado, em meio a uma nuvem de incredulidade e sob os olhares desconfiados de cirurgiões, alunos e professores. E ainda tinha problemas recém-resolvidos do dispositivo que tinha inventado, um aparelho simples para entregar o éter sulfúrico aos pacientes cirúrgicos e com isso tentar anular a dor e a consciência onipresentes nos procedimentos cirúrgicos de então.
O retumbante sucesso daquele primeiro momento delineava o que seria a relação de cirurgiões com anestesiologistas, ambos médicos, juramentados à Hipócrates do mesmo jeito, mas com um abismo de contradições, ressentimentos, comédia e amizade que perdura até hoje.
Doutor, meu medo é da anestesia é somente sobre isso, e sobre tudo isso. A anestesia apresentada de uma forma nunca antes vista ao leitor não médico. E ao médico também, por que não?